sexta-feira, 14 de março de 2014

Alguém para admirar

Se vestiu como poucas vezes fez antes. Pensou em passar um batom, mas um batom estragaria tudo. Um gloss resolveu o problema. Não havia nada de extravagante, exceto o fato de que estava se achando linda. Pronta para ser admirada. Mas não havia quem admirasse.

Calçou o par de saltos mais confortáveis e colocou a melhor roupa que uma mulher pode usar: auto-confiança e amor próprio. Andou calmamente. Desfilou pelas lojas do shopping, encontrou com um amigo. Foram ao cinema. Mas faltava algo. Alguém para admirar.


Com o andar do relógio, o desconforto foi chegando. Uma angustia tomando conta e centenas de rostos errados passando e nenhum rosto certo parando para dizer: "uau! Você tah linda, amor!". Colocou o sorriso de volta no rosto, um sorriso amarelo, sem graça, sem empolgação. E a saudade de alguém que ainda nem conhecera havia começado a sufocar a alegria daquele dia.

"Tudo bem. Não sou a primeira a passar por isso, nem serei a última!", pensou. "Mas poderia ser mais fácil, não é?!". Vestiu uma falsa auto-confiança, que não lhe caiu muito bem. Parecia com aquela roupa predileta que ficou apertada de uma hora para outra.

Engoliu em seco e deixou as horas correrem. E não havia ninguém que a admirasse, que se quer notasse a dor que aflorava ali. No final, quando terminava o dia e saía daquele lugar, já não eram centenas e sim milhares de rostos errados. Milhares de falsas promessas, de palavras jogadas ao vento e futuras decepções. Nenhum rosto verdadeiro parou para admirar a obra de arte que fez ao sair de casa.

Mas nessa altura já não tinha muito a ser admirado: a insegurança tornara a auto-confiança desconfortável e a falta do alguém especial fizera com que questionasse seu grande sonho: o dia em que teria a admiração de alguém por toda vida!. Por dentro tudo ruía, tal qual um castelo de cartas. E no fim, tudo o que queria era alguém para admirar e um abraço pra se aconchegar!

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Kamila Mendes


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