quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Os Trilhos do trem

Era estranho o Sol brilhar de forma tão intensa em um dia como aquele. Seus raios iluminando os lugares mais distantes, dando um toque belo e alegre àquele dia. Um amanhecer tão bonito é quase uma ofensa.

As plantas também pareciam estar mais bonitas e viçosas. Pequenas moitas com flores minusculas ornavam o lugar como se não se importassem com a intensa movimentação ao seu redor. Era quase como se gostassem de tanta agitação. Envolvento os pedaços de madeira, sobrepostos sobre as barras de ferro, grama verde crescia bela e forte e não reparava no liquido viscoso que enxarcava o cascalho e a terra abaixo.

Mas apesar de tão belo dia, os animais permaneciam quietos, silenciosos, quase como se estivesse se compadecendo dos uivos doloridos do pobre cão. O cachorro uivava e não permitia que pessoa alguma se aproximasse.

O cão estava tão sujo de sangue quanto o cascalho abaixo dos trilhos do trem. Como amigo fiel, ele protegia o corpo quebrado e desfigurado de seu dono. Observando a cena a sua frente, vendo o quadro geral que não se encaixava, o detetive tentava entender que ser mostruoso poderia ter feito aquilo. Um granido de dor do cachorro chamou sua atenção.

O animal parecia ter percebido que seu pequeno dono não se levantaria dali. A medida que uivava, um choro feminino ia ficando cada vez mais forte. Olhando ao redor, o detetive percebeu uma senhora se aproximando, chorando desconsolada, estendo os braços para tocar aquilo que outrora fora seu pequeno filho.

O cão se encolheu ao lado da mulher e juntos choraram. Ali estendido nos trilhos do trem, o corpo moído e ensanguentado de um garotinho. O detetive respeito o luto da mãe, mas exerceu seu trabalho: interrogou os curiosos, convocou a imprensa e revelou o que havia descoberto, mas nenhum sinal do assassino.

O detetive permaneceu investigando o caso por dias, meses e anos, mas sempre que chegava perto do encalço do assassino, as pistas desapareciam. O tempo passou e o caso foi arquivado. As pessoas esqueceram, como sempre acontece com os casos que geram polêmica: eles vem e vão como vendaval.

Mas o detetive nunca esqueceu. Volta e meia ele retorna aos trilhos e fica ali parado observando o local, como se ainda visse o corpo destroçado no chão. Ainda sente a brisa suave que refrescava o dia quente e trazia o cheiro de ferrugem, próprio de sangue fresco. Os raios de Sol ainda traziam a tristeza de volta. Queria ao menos vingar a criança. Mas nada podia fazer a não ser ficar ali, olhando os trilhos do trem.

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Kamila Mendes

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