domingo, 20 de maio de 2012

Pequeno Conto (Parte VI)


Um suspiro longo tira a disposição do seu rei e o olhar dele se perde em meio a multidão de dançarinos e quando ele começa a falar sua voz é uma mistura de dor, dúvida e hesitação.

“– Não quero que você pense que fui responsável por isso! Eu não pedi, nem procurei. Tão pouco tenho motivos para ter de me explicar. Mas, de alguma forma,  os antigos reis souberam e dizem as más línguas que eles virão ao baile. Mas até agora não há razão para acreditar que eles tenham voltado a Nárnia. Talvez seja só um blefe daqueles que não aprovam meu casamento com uma mulher que não seja narniana!”

E como se estivesse esperando apenas uma deixa, ela adentra o baile. Vestida em um vestido verde de seda, os cabelos presos em um coque. Se antes você já considerava frágil a pouca liderança que surgia em você, com a presença dela toda autoridade em você correu com medo!

 Então, como se não pudesse evitar você comenta baixinho: “– Ela é realmente linda!”, e com essa constatação você se encolhe e tentar ir embora, mas mão de Caspian a mantém presa ao chão e só então você tem coragem de levantar os olhos e olhar para seu rosto: ele está olhando fixamente para ela e você não consegue decifrar o que significa aquele olhar. Uma onda de ciúmes invade seu peito e as lágrimas lutam para sair e você se sente impotente, como se fosse uma lebre diante de um predador maior em beleza e força!

“– Então era isso que o texugo tentou me dizer todo esse tempo!”, antes que alguém a levasse dali, você reúne a pouca dignidade que ainda resta, bebe um longo gole de champangne de uma taça que o garçom acabou de trazer, solta a mão de Caspian vai em direção a ela e, quando finalmente ela lhe dá atenção, você se curva diante dela e se apresenta:

“– Rainha Suzana, é uma honra está diante de vossa presença. Sou a princesa dos Vales do Leste, obrigada por ter vindo ao baile!”, você se mantém curvada e somente quando ela lhe dá a ordem para que levante é que você olha em seus olhos e pensa “Bem, esse azul pode realmente afogar um homem!”.

Com um gesto de mão ela a cumprimenta e fala gentilmente “– É um prazer conhecê-la, Princesa dos Vales do Leste, levante-se!” e segue em direção a Caspian que também se curva diante dela e ela lhe retribui a mesura. Durante um tempo, realmente incomodo para você, eles se mantém olhando um para o outro. Suzana ri e se volta a você e fala com um tom desinteressado:

“– Então, essa é a futura rainha de Nárnia? Ela muito bonita! Onde você a encontrou Caspian?”

“– Em seu mundo, vossa graça!”. Com uma pontada no coração você percebe que esse tratamento é dado a qualquer mulher com título nobre e não somente a você.

“– Em meu mundo? Isso é no mínimo curioso, mas por que lá? Existem tantas mulheres dignas de um trono aqui mesmo em Nárnia? O que tem de especial no meu mundo?”. De repente você percebe que, de alguma forma Caspian também se sente submisso a ela.

“– Porque, minha rainha, seu mundo gera as rainhas mais poderosas da história de Nárnia. É só olhar para o passado e podemos ver a Rainha Helena, vossa majestade e vossa irmã, a rainha Lucy. E eu preciso e quero uma rainha forte, capaz de governar em minha ausência e capaz de ser tão terna e carinhosa quanto uma mulher possa ser. E eu a encontrei”.

Seu coração para pelo tempo de uma batida ao perceber que ele se refere a você, um sorriso atravessa seu rosto, mas ele não elimina o ciúme que cresce em seu peito!

A Rainha Suzana vira em sua direção e com um interesse legítimo fala: “– Espero que você esteja gostando de Nárnia, por experiência própria sei que a adaptação é um tanto quanto difícil!”

“– Sim Mi Lady, estou gostando de Nárnia e começo a me sentir em casa nesta terra! Obrigada por perguntar”. E então o Sr. Texugo vem em sua direção segurando um ramalhete de flores e você sorri ao pensar que somente seu melhor amigo em Nárnia lhe daria um presente como esse na hora em que você mais precisa, mas de repente, Caça-Trufas desvia seu caminho estende o buquê em direção a Rainha e fala: 

“ – Minha senhora, este é um singelo presente de seu povo, de todos nós narnianos que um dia lutamos ao seu lado e que aprendemos a amar Vossa graça.”

No lugar do seu coração agora existe um buraco vazio e frio. Você olha desconcertada para o Texugo e ele se ajoelha perante a rainha e todos no salão seguem o exemplo de Caça-Trufas. Novamente, você se sente com um nó na garganta e descobre que esse povo que você já ama tanto nunca será seu povo. Eles nunca lhe amarão como a amam e nunca você terá algum tipo de autoridade com eles. E seu rei, esse homem que você sempre viu tão seguro de si, tão cheio de poder e autoridade também estremece diante Dela. Então, como se fosse uma revelação, você percebe que: “Ele pode gostar de mim e me admirar em algum sentido deturpado, mas nunca vai me amar”.

O nó na garganta aumenta até que você sente uma necessidade absurda de sair para o jardim e respirar ar puro. “Ela é tão linda, tão poderosa. Nunca vou competir com ela e pior nem espaço para odiá-la há em meu coração. Porque como se pode odiar uma criatura tão doce e gentil? Sinto-me como aquelas adolescentes de filmes americanos que querem morrer ao perder o namorado.” Suspirando, seu semblante cai ao pensar: “-A diferença é que não posso perder o que nunca foi meu!”

 Sentada escondida no escuro, você chora lágrimas de uma dor desconhecida! Lágrimas por perder algo que já considerava seu. Lágrimas por ter acreditado que Nárnia também era um lugar para você! Seu conto de fadas pode ter sido somente uma ilusão. Ela voltou e está lá de pé e todos a rodeiam. Ela encontra tempo e palavras carinhosas para agradar e atender a todos.

Você olha para as estrela e lembra-se de alguém que nunca lhe abandonou, mas o qual você nunca se lembrou e suas lágrimas descem como rios pelo seu rosto e você pede, baixinho e silenciosamente, para que apenas ele ouça:

“– Aslan se você pode falar comigo, por favor, me explica o que está acontecendo. Se não era para eu estar aqui me fale, por favor. Basta uma palavra sua e eu dou um jeito de voltar para minha vida antiga. E esta dor, o que é isso? Aslan, faça isso passar, faça essa dor ir embora, porque eu não suporto mais!” E então, como se uma onda devastadora rompesse uma barragem, toda as lágrimas que você tentou segurar durante tanto tempo deságuam pelo seu rosto.

As horas passam e ninguém percebe a sua ausência. Seus olhos estão inchados, e você não tem mais lágrimas para derramar. A maquiagem já escorreu junto com qualquer tipo de sentimento e agora só restam um rosto manchado de lágrimas e uma sensação de anestesia. Mas ainda lhe faltam forças para levantar. Ainda sentada no escuro, mais uma vez você olha para o céu e indaga “- Aslan, você pode me ouvir?”

Um vento suave sopra à medida que uma presença cresce ao seu redor. É algo tão forte e poderoso que você não consegue descrever. Você fecha os olhos e é como se eles não estivessem fechados, é como se você tivesse sido levada para outro mundo e quando os abre você ainda está no jardim. Sua intuição lhe diz para continuar de olhos fechados, e você obedece!

Uma sensação de conforto e paz lhe envolve. Seu coração dispara e uma alegria incomum enche seu peito e invade seu coração, transbordando em lágrimas. E então você o ouve.

“– Eu nunca deixei de te ouvir, minha filha!”

Ali, diante do Grande Leão, todos os medos vão embora. Você o olha e sente vontade de abraçá-lo. E Ele então sorrir e com um aceno de cabeça convida-a a realizar esse desejo. Você levanta e vai até Ele, cai de joelhos na frente dele e se joga em um abraço. Você deixa com que a juba do Grande Rei roce o seu rosto e a gargalhada profunda de satisfação Dele a envolva. E agora já não há mais medo, nem dor, nem insegurança ou raiva.

“– Eu realmente amo quando meus filhos, meus queridos se aproximam de mim. E você minha querida, nunca foi esquecida!”

“– Mas, meu Senhor, se eu nunca fui esquecida o que é isso tudo. Já não tenho certeza de estar no lugar certo. Na verdade nunca tive!”, você desabafa.

“– Quando se tem a certeza absoluta de algo é porque já não há mais nada a aprender. Pense nisso: Seguidores vivem pelo que vêem. Lideres vivem pelo que crêem. E eu pergunto: em quem você crê minha querida? Em mim ou em um poder humano que se esvai com a morte? Vamos levante, enxugue esse rosto. Essa festa é para você. Ou você realmente pensa que eu nunca iria festejar a nova filha de Eva a sentar em um trono de Nárnia?”

“Você vai à festa comigo?”

“– Não. Mas eu posso levá-la até a entrada. Algumas vezes basta que eu me manifeste a você e só a você. Mas isso não significa que eu não estarei lá. Afinal, quem você acha que inspirou Caspian a dar esse baile? O anfitrião da festa sempre está por perto, por mais que você não possa vê-lo. Enxugue as lágrimas e vamos. Você já passou tempo de mais sozinha!”

E então você abriu os olhos e não era sua imaginação, pois Aslan está ali diante de você e você está agarrada ao pelo de sua juba. Você se levanta. Limpa as folhas de seu vestido e olha para o Leão, que deu a vida por você e diz:

“– Obrigada por ter estado comigo. Agora eu entendo que mesmo enquanto não podia vê-lo, você estava aqui andando comigo nos momentos mais importantes, enxugando minhas lágrimas!”

“– Isso, minha filha. Mas ainda há mais a aprender. Essa não é sua única lição! Levante a cabeça, encha o peito com segurança, pois Eu sou contigo!”

E por Ele ter mandado, você o faz. Segue em direção a porta de entrada do baile, depois de tê-lo visto desaparecer entre as arvores, segura de uma simples verdade: por mais que seus amigos a abandonem, Ele nunca a abandonará!

Quando chega a porta de vidro que dá vista ao jardim, Caspian está lá esperando por você. Uma surpresa atravessa o rosto do rei, quando de dentre as arvores um rugido baixo se faz ouvir e uma voz profunda, mas suave indaga:

 “ – Caspian, o que você está fazendo, já não é hora de esquecer o passado?”

E quando você se vira para as arvores tem a exata noção do o rei está vendo: Aslan está sentado sobre as patas traseira olhando fixamente para o rosto de Caspian X até que este abaixe os olhos. Com um aceno de cabeça, o Grande Leão se despede de você deixando a certeza de que essa não foi a primeira nem a última vez que vocês estiveram juntos!

Quando se vira para Caspian, o rosto dele é uma mascara de constrangimento e preocupação genuína e percebe alívio quando ele afinal a enxerga por entre as árvores.

“– Por onde você andou? Como você é capaz de sumir? Você tem noção do medo que eu tive?” Por fim, depois que as perguntas cessam, ele assume baixinho, mas olhando em seus olhos: “ – Me perdoe princesa, eu fui um tolo,”
 Uma coragem que nunca havia tido enche todo o seu ser. Você toma a mão do Rei e o puxa para um abraço e diz pacificamente “– Estive com meu Senhor e não se preocupe, não vou deixar o que conquistei com tanto esforço escorrer por entre meus dedos! Vamos entrar.”

Impressionado com sua atitude, Caspian a observa boquiaberto: “– O que aconteceu?”

“– Nada. Só que sei que essa festa é para mim e não vou deixar que minha alegria acabe porque as coisas não saíram do meu jeito. Vamos temos uma rainha como convidada e eu não quero decepcionar meu Senhor!”

Assim que você entra novamente no baile, Caça-Trufas vem ao seu encontro e pede perdão por não ter lhe contado nada. “– Tudo bem. Mas que isso não se repita. Se vou de fato ser sua rainha, espero o mínimo de respeito daquele que considerei meu melhor amigo!” e você continua andando em direção da rainha Suzana. Seu peito ainda arde de ciúme, mas já não é uma dor insuportável e devastadora. Com um arroubo de coragem, você decide colocar em prática aquela tão famosa frase: “– Já que não pode vencê-la, junte-se a ela” e a sua mais nova missão é descobrir porque Suzana está em Nárnia outra vez!

Continua... 


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Kamila Mendes

2 comentários:

Tsu disse...

Noooossa!
Vim ver o texto por conta da foto de Ben Barnes e me deparei com essa excelente fanfic! Muito legaaaal!

Kamila Mendes disse...

obrigada,Tsu!

essa fic é meu bebê...tenho escrito ela com todo cuidado e carinho!